por Marcello Caminha
Eu nasci em 1971, em Bagé, região da campanha do
Rio Grande do Sul. Até os sete anos morei na Estância da Queimadinha, no 2º
distrito de Lavras do Sul, com meus pais e avós.
Quando chegou a idade do colégio, fui pra Bagé para estudar. De imediato, a mãe me matriculou na Escola de Violão prof. Edemar Teixeira, um professor muito conhecido na cidade. Na verdade, acho que a intenção dela era mais a de achar uma ocupação para as manhãs que eu passava parado em casa do que propriamente para fazer um músico. Coisas de mãe... E não é que eu comecei a gostar do negócio! Só sei que, passados uns
dias da primeira aula, eu mal esperava a hora de amarrar o meu Gianinni tonante
no bagageiro da bicicleta e ir pra escola de violão, "loco" pra aprender uma música nova.
Lá pelos treze anos apareceu um convite do colégio que eu estudava para ser
"professor de violão". Era para dar aulas no programa extra-classe da
escola. "Vamo lá!" só sei que quem passava pela sala onde eu
lecionava tinha a nítida impressão de que não havia professor, porque, ou não
me enxergavam no meio de tantos alunos mais velhos e mais altos do que eu e, se
me viam, não acreditavam que era eu realmente o professor.
Essa empreitada durou até participar do meu primeiro festival, no dia 25 de outubro
de 1985, em Bagé (1º Sentinela da Canção: música "Meu canto", de
Adair de Freitas, interpretada pelo autor). Estréia feita, vieram muitos outros
festivais, cuja história, recheada de prêmios e momentos inesquecíveis, não
daria para contar aqui, nestas breves palavras.
Contudo,
mesmo sonhando com uma possível carreira artística, nunca deixei os estudos de
lado, com 18 anos passei no vestibular e ingressei na faculdade de medicina
veterinária na URCAMP, em Bagé, onde, "abaixo de polvadera" de idas e
vindas dos festivais, misturando violão e livros, me formei médico veterinário
em julho de 1996.
Em
1990, conheci minha esposa Luci. Em 1996 veio o Marcellinho que, hoje já é uma
figura conhecida no meio musical e já toca comigo nos shows. em 2006 nasceu a
Malena (nome dado em homenagem a uma famosa cantora de tangos que viveu em
Porto Alegre na década de 1940 e inspirou o compositor Homero Manzi a compor o
tango que leva o seu nome).
Sempre
gostei muito de gravar o que toco. Quando ganhei meu primeiro aparelho de som,
que tinha dois toca-fitas, achei que já tinha um estúdio em casa. Fazia
misérias com aquele aparelho: gravava de uma fita para outra, editava trilhas
de violão, criava solos sobrepostos e tudo o mais que, na época, pra mim era o
máximo...
Dessa
semente nasceu a minha paixão por estúdios. De lá pra cá, já gravei "com
Deus e todo mundo" aqui sul do Brasil, nunca esquecendo que, quem me deu a
primeira oportunidade para atuar como músico-de-estúdio, gravando um disco
inteiro foi o amigo Luis Marenco, no seu "Filosofia de Andejo", em
1993.
Já
escutei muita música ao longo dos meus quarenta e poucos anos de vida. A data
de 7 de 7 de 77, está escrita na capa do primeiro LP que ganhei do meu avô,
ainda lá na Queimadinha. Era uma coletânea da gravadora Chantecler chamada
"Gauchíssimo". Deste disco, tenho no ouvido até hoje o vocal
inconfundível dos Angüeras cantando "João Campeiro". Escutava
"os" José Mendes que tocavam direto lá em casa; também os
"Teixeirinhas" e "Gildos" e, claro, Roberto Carlos.
A coisa
ficou mais séria quando comprei o LP da 10ª Califórnia da Canção Nativa. Ali eu
comecei a saber o que era festival e a me interessar por um novo estilo de
música que estava se forjando no Rio Grande do Sul. A vencedora
"Veterano", o Borges com o "Romance na tafona" e o
tradicional "solinho" da introdução do "recuerdos da 28",
que é claro, tratei de tirar imediatamente no violão...
De
tango, escutava tudo. Lá em casa o hino era a "Cumparsita". Sempre
ouvimos muito tango. A Vó traduzia as letras e me contava as histórias dos
tangos famosos. É claro que no meu repertório já havia vários tangos.
Por
volta de 1987, eu tocava junto com o José Armando Carretta, um grande músico e
amigo lá de Bagé e lembro que ele me fez comprar um LP chamado
"Samambaia", do César Camargo Mariano. Lembro do Carretta orientando:
"...Marcello, músico que se preza tem que escutar isso! ... Vai lá e
compra o disco!..." Foi aí que comecei a conhecer o jazz. Daí, brilhou um
novo sol à minha frente, trazendo Paco de Lucia, Al Di Meola, Pat Metheny,
George Benson, Astor Piazolla, Tom Jobim, Chico Buarque entre outros que vim a
conhecer e até hoje peço a bênção desses mestres sempre que penso em música...
Nesta
mesma época, nas rodas de mate e prosa buena dos finais de tarde na casa do poeta
e amigo Eron Vaz Mattos, lá em Bagé, conheci os discos de grandes nomes do
folclore Argentino e Uruguaio, tais como Los Chalchaleros, Alfredo Zitarroza,
José Larralde e Atahualpa Yupanqui.
Acho
que foi dessa mescla de gêneros musicais que busquei minha influência, pinçando
um pouquinho de cada um e trazendo para uma espécie de núcleo formador de um
estilo próprio de comunicação musical e um jeito peculiar de tirar som do
violão que procuro aperfeiçoar a cada dia que passa.
Hoje,
morando em Porto Alegre, procuro desenvolver minha atividade de forma sincera,
simples e espontânea, sem perder de vista as minhas origens, tratando a cultura
regional gaúcha com um profundo respeito e trabalhando incansavelmente para o
seu aprimoramento e valorização.
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